26.8.12

Dia 29 – Visitar um parente que você não veja com freqüência

Quando comecei esse desafio, achava que uma das primeiras tarefas que realizaria seria visitar um parente. Assim, pensei em deixar mais para o final, para ficar na manga, e realizar quando tivesse dificuldade com outras tarefas. Acabou que foi uma das tarefas que mais tive dificuldade de realizar. Curioso, não?
Acontece que à medida que postava minhas tarefas no blog, mais gente ficava ciente do que estava fazendo. E aí começou a acontecer uma coisa que é muito ruim para a realização de atividades. Fiquei preso dentro dos meus pensamentos, achando que as pessoas poderiam achar que eu estava visitando apenas para cumprir uma tarefa e postar no blog. Uma atitude egoísta e não uma visita genuína. Com isso, limitei as minhas escolhas e apesar de ter uma família grande, fiquei com vergonha de ligar para encontrar alguns parentes que poderia ter visitado. No fundo, é verdade que visitaria para cumprir a tarefa, mas na realidade são atividades que são de fato transformadoras e mudam a maneira como você se comporta. Portanto, mesmo que você esteja fazendo algo por você mesmo, se trouxer alegria para os  outros, então tudo bem.
Hoje em dia, fazer uma visita pessoal é uma coisa incomum. Especialmente em uma cidade como São Paulo. Temos contato com centenas de pessoas pelas nossas redes sociais, mas não falamos mais com elas. Fazer uma visita em suas casas é algo ainda mais raro. Quando foi a última vez que você ligou para alguém que não via há um tempo e disse “Estou dando uma passada para fazer uma visita, ok?”? Apenas vamos à casa das pessoas quando ela nos convida e ainda assim, vejo que esses convites têm ficado cada vez mais escassos. Está cada vez mais difícil encontrar as pessoas que queremos por perto. Todo mundo está sempre ocupado com trabalho, eventos pessoais e os diálogos  costumam ser mais ou menos assim:
- Po, que saudade de você.
- Pois é, eu também. Você sumiu.
- Eu to sempre por aqui, você que sumiu.
- É verdade, vamos marcar alguma um dia desses.
- Vamos sim. To indo viajar daqui duas semanas, mas quando eu voltar a gente marca.
E nunca marcamos. O tempo passa e você se afasta das pessoas. Fiquei de visitar alguns amigos quando seus filhos nasceram e quando o fiz, o filho já estava como mais de um ano. Outros, fui deixando o tempo passar e não visitei. E depois de tanto tempo, você fica com vergonha, por ter passado tanto tempo. Acho que é assim que as pessoas se afastam. O tempo traz consigo um componente psicológico, que deixa o contato esquisito e supostamente inadequado.
Como disse no começo do post, achei que fosse ter mais facilidade com essa tarefa. Tive sentimentos esquisitos, como achar que poderia incomodar alguém e dar trabalho ao ir até sua casa e fazê-la me receber, tentar adivinhar o que ela poderia pensar de minha visita ou ligação inusitada. Um misto de nervosismo, ansiedade e receio de incomodar. Ridículo,não é mesmo? Eu invejo a simplicidade da vida no interior, onde as coisas e as pessoas não têm essa complexidade. Falo por mim, mas acho que muita gente vive a mesma situação.
Hoje fui com meu pai e minha irmã visitar minhas tias avós. São duas irmãs da minha avó que vivem sozinhas e somente encontro em festas grandes (casamentos ou aniversários múltiplos de 10) ou em velórios e enterros. Elas vivem no mesmo bairro onde trabalho e ainda assim as vejo com pouca freqüência. E foi muito gostoso.
Encontrar pessoas que gostam bastante de você mostra o quão ridículo é hesitar em visitar. Você sempre será bem recebido pelas pessoas que gostam de você e sempre levará um pouco de alegria para elas. Tomar chá, comer bolo, ouvir histórias e sentir que tem gente que você não vê com freqüência e que deseja o seu bem sempre. Como disse Vinícius de Moraes, “a vida é a arte do encontro”

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